terça-feira, 14 de outubro de 2008

Depilação Feminina


- Tenta sim... vai ficar liiiiinda! - Foi assim que decidi, por livre e
espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha.
Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve, mas acho que pentelho não
pesa tanto assim.
Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa.
Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso
aconteceria, mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso,
havia toda uma indústria pornô-ginecoló gica-estética.
- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
- Vai depilar o quê?
- Virilha.
- Normal ou cavada?
Parei aí, eu lá sabia o que seria uma virilha cavada, mas já que era pra
fazer, quis fazer direito.
- Cavada mesmo.
- Amanhã, às... deixa eu ver...13:00 horas?
- Ok. Marcado.
Chegou o dia em que perderia dez quilos, almocei coisas leves, porque eu lá
sabia o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique,
escolhi uma calcinha apresentável. .. e lá fui eu.
Assim que cheguei, Penélope estava esperando, moça alta, mulata, bonitona...
pensei. .. oba, vou ficar que nem ela, legal.
Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado, saímos da
sala de espera e logo entrei num longo corredor.
De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas, por trás delas
ouvia gemidos, gritos, conversas, uma mistura de Calígula com O Albergue.
Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão, mas eis
que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.
- Querida, pode deitar.
Tirei a calça e timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca, mas a
Penélope mal olhou pra mim, virou de costas e ficou de frente pra uma
mesinha, ali estavam os aparelhos de tortura.
Vi coisas estranhas, uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça,
meu Deus, era O Albergue mesmo.
De repente, ela vem com um barbante na mão, fingi que era natural e sabia o
que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha
pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.
- Quer bem cavada?
- É... é, isso.
Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail,
nome carinhoso da minha periquita, esqueci de apresentar antes.
- Os pêlos estão altos demais, vou cortar um pouco senão vai doer mais
ainda.
- Ah, sim, claro.
Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia, mas confiei.
De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um
líquido viscoso e quente (via pela fumaça).
- Pode abrir as pernas.
- Assim?
- Não, querida, que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga
cada perna pra um lado.
- Arreganhada, né?
Ela riu... que situação... e então, Pê passou a primeira camada de cera
quente em minha virilha Virgem, gostoso, quentinho, agradável... até a hora
de puxar.
Foi rápido e fatal, achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que
apenas minha ossada havia sobrado na maca, não tive coragem de olhar, achei
que havia sangue jorrando até o teto, até procurei minha bolsa com os olhos,
já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu, tudo isso buscando me
concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo super natural.
Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa, eu havia
esquecido de respirar, tinha medo de que doesse mais.
- Tudo ótimo. E você?
Ela riu de novo, como quem pensa: "que garota estranha", mas deve ter
aprendido a ser simpática para manter clientes.
O processo medieval continuou, a cada puxada eu tinha vontade de espancar
Penélope, lembrava das minhas amigas recomendando a depilação e imaginava
que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer, todas recomendam
a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.
- Quer que tire dos lábios?
- Não, eu quero só virilha, bigode não.
- Não, querida, os lábios dela... aqui ó.
Não, não, pára tudo, depilar os tais grandes lábios? Putz, que idéia!!! Mas
topei, quem está na maca tem que se fuder mesmo.
- Ah, arranca aí, faz isso valer a pena, por favor.
Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de
Penélope e dá uma conferida na Abigail.
- Olha, tá ficando linda essa depilação.
- Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto.
Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração
das duas, estavam tãooooo perto olhando que cerrei os olhos e pedi que fosse
um pesadelo... pensei... "Me leva daqui, Deus, me teletransporta" .
Só voltei à terra quando entre uns blábláblás, ouvi a palavra pinça.
- Vou dar uma pinçada aqui, porque ficaram um pelinhos, tá?
- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada.
Estava enganada, senti cada picadinha daquela pinça filha da puta arrancando
os pelinhos resistentes da pele já dolorida e quis matá-la, mas mal sabia
que o motivo para isso ainda estava por vir.
- Vamos ficar de lado agora?
- Hein?
- Deitar de lado, pra fazer a parte cavada.
Pior não podia ficar, obedeci à Penélope, deitei de ladinho e fiquei
esperando novas ordens.
- Segura sua bunda aqui?
- Hein?
- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.
Tive vontade de chorar, eu não podia ver o que Pê via, mas ela estava de
cara para ele, o olho que nada vê.
Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista.
Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la.
Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo, o marido
perguntaria:
- Tudo bem, Pê?
- Sim... sonhei de novo com o cú de uma cliente.
Mas, de repente, fui novamente trazida para a realidade, senti o aconchego
falso da cera quente besuntando meu Twin Peaks, não sabia se ficava com mais
medo da puxada ou com vergonha da situação.
Sei que ela deve ver mil cus por dia, aliás, isso até alivia minha situação,
por que ela lembraria justamente do meu, dentre tantos?
E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá?
Fui impedida de desfiar o questionamento, Pê puxou a cera, achei que a bunda
tivesse ido toda para a casa do caralho.
Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali e com certeza não
havia nem uma preguinha pra contar a história mais.
Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo, sons guturais, xingamentos,
preces, tudo junto.
- Vira agora do outro lado.
Porra... por que não arrancou tudo de uma vez?
Virei e segurei novamente a bandinha e, então, para piorar, a biscate da
salinha do lado novamente abre a cortina.
- Penélope, empresta um chumaço de algodão?
Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos, era dor demais,
vergonha demais, aquilo não fazia sentido, estava me depilando pra quem?
Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito, só mesmo Penélope e
agora a vizinha filha da puta da maca ao lado.
- Terminamos, pode virar que vou passar a maquininha.
- Máquina de quê?!
- Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.
- Dói?
- Dói nada.
- Tá, passa essa merda...
- Baixa a calcinha, por favor.
Foram dois segundos de choque extremo, baixe a calcinha, como alguém fala
isso sem antes pegar no peitinho?
Mas o choque foi substituído por uma total redenção, ela viu tudo, da
piriquita ao cú, o que seria baixar a calcinha?
E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.
- Prontinha... posso passar um talco?
- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.
- Tá liiiiinda!!! Pode namorar muito agora.
Namorar??? Eu estava com sede de vingança, admito que o resultado é bonito,
lisinho, sedoso, mas doía e incomodava demais, queria matar minhas amigas.
Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso, queria fazer
passeatas, criar uma lei antidepilação cavada.
Queria comprar o domínio: www.preserveasxoxotaspeludas.com.br e protestar
eternamente contra essa
tortura

Nenhum comentário:

Postar um comentário